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sábado, 23 de março de 2013

Capítulo 3


       3. Sobrenatural

Molhei meu rosto várias vezes e endireitei a postura para olhar no espelho. Quase tive um ataque. Atrás de mim refletida no espelho estava ela de novo. Eu gritei e virei rápido para trás, porém não havia ninguém. Com o coração aos saltos e a respiração ofegante, eu olhava apavorada para cada canto do banheiro. Durante vários minutos, isso foi tudo que eu fiz. Tinha acontecido de novo, o que estava acontecendo comigo? Aquilo estava começando a me dar medo. Será que eu deveria ir a um parapsicólogo? Com minhas pernas tremendo e parecendo de gelatina me virei para o espelho. Mas, dessa vez, não tinha nada refletido além de minha própria imagem. Segurei com as duas mãos na bancada da pia e fechei os olhos respirando fundo várias vezes.


“ Acho que realmente estou ficando louca! ”

Pensei enquanto tentava me acalmar. Já era a terceira vez que eu via aquela mulher e tinha começado quando eu voltei de Manaus. Respirei fundo novamente e abri os olhos devagar.

— Ah meu Deus!

Sibilei mortificada com que eu vi. A mulher estava lá outra vez, refletida atrás de mim. Fiquei sem ação enquanto ela me olhava calmamente, usava o mesmo vestido de época. Os cabelos castanhos escuros e cacheados chegavam na cintura e seu rosto era lindo, não se adequava muito com alguém que estava... morta.

— Lavígnia.

Ela me chamou e eu prendi a respiração. Eu estava tão imóvel que nem mesmo piscava mas, resolvi ver o que ela queria.

— Sim... - sussurrei.

— Você precisa voltar. - A jovem fantasmagórica disse a mesma coisa que em meu sonho.

— Pra onde? - minha voz saiu num fio.

— Pra quem você é.

— Quem sou eu? - repeti confusa.

— Sim, você tem que voltar.

— O quê? - Perguntei quando fortes batidas na porta se fizeram ouvir e num piscar de olhos, ela sumiu.

— Lavígnia? - a voz de Neitan chamou do lado de fora do meu quarto – Lavígnia você está bem?

Pisquei algumas vezes olhando para o banheiro vazio e então corri para abrir a porta e encontrei Neitan com uma expressão preocupada.

— Você está bem? Te ouvi gritar...

— Ouviu?! Hã... é... eu me assustei com uma lagartixa, mas eu estou bem. - Expliquei ainda atordoada enquanto seus olhos verdes me avaliavam.

— Hã... bem é que eu me preocupei um pouco, por isso subi aqui. - Justificou-se ele e eu pisquei.

— Tudo bem, Neitan. Obrigada por se preocupar.

— Certo... então eu já vou indo. - Neitan avisou afastando-se pelo corredor e de repente senti muito medo de ficar em meu quarto sozinha.

— Espera, vou com você. - Falei me colocando ao seu lado.

— Tem certeza de que está bem mesmo? - ele perguntou quando descíamos as escadas.

— Tenho sim... por quê? - estranhei quando passava pela porta da cozinha.

— É que você está parecendo meio perturbada. - disse ele sendo o bom observador de sempre.

— Ah... é que meu trabalho está me sobrecarregando, minha tia tá me enlouquecendo. - Revelei enquanto pegava a jarra da cafeteira. Neit sentou-se do outro lado da bancada – Você quer? - apontei a xícara e ele fez que não.

— Não, obrigado. Mas então, o que sua tia está fazendo pra te tirar do sério?

— Ela enfiou na cabeça que tenho que saber tudo que ela faz no trabalho, tenho que ler processos, petições, fazer relatórios, etc... ela quer que eu esteja pronta pra assumir o caro dela daqui há sei lá... trinta anos! - exagerei antes de bebericar meu café – É muita pressão às vezes dá vontade de... sei lá... - parei ao ver que estava exagerando no meu desabafo.

— De quê? - insistiu ele e eu ri sem vontade.

— De largar tudo e sumir! Sair por aí caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento. - Falei, aproveitando a letra da música do Caetano Veloso.

— Parece uma ótima ideia – ele embarcou na coisa – por que não faz?

— Ah... não sei. É só uma ideia sem sentido algum... tenho meu trabalho, responsabilidades, coisas que me prendem aqui. - justifiquei.

— São suas próprias desculpas, Lavígnia. Seus limites você mesma cria e impõe, liberte-se e faça o que tem vontade de fazer. - filosofou ele conseguindo me fazer considerar mesmo a ideia.

— É... você deve estar certo, mas... é complicado. - relutei segurando minha xícara entre as mãos.

— Só se você quiser.

— Hum... você só fala assim porque já fez isso uma vez. - falei, encontrando seus olhos divertidos.

— E não me arrependo, pra falar a verdade... eu faria de novo.

— Sério? - duvidei.

— Sério... sabe, às vezes é preciso se desligar do mundo pra dar atenção ao que realmente importa... nós mesmos. - declarou Neitan me fazendo ficar presa em seus olhos por alguns segundos.

— Desse jeito você vai acabar me convencendo. - brinquei mas no fundo, falava sério.

— Perfeito! Quer companhia?

— O quê?! - me surpreendi e ele riu.

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