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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Capítulo 7 / 5ª parte



— Eu fiz isso? - sussurrei numa indagação para mim mesma.

Então revi as outras cenas, a da xícara, do computador e da toalha. Em todas elas foi um sentimento meu que desencadeou o acontecimento estranho. Eu senti raiva, eu desejei, eu ordenei. E aconteceu.

“ O que está havendo comigo? ”

Me perguntei, enquanto desmoronava para o chão. Cobri meu rosto com ambas as mãos e desejei sumir da face da Terra. Sem minha permissão, lágrimas de um desespero incompreendido brotaram em meus olhos e molharam meu rosto.

Nada de dormir, nada de dormir até encontrar a resposta. Não vou parar,
não vou parar até encontrar a cura para este câncer. Ás vezes me sinto
como se estivesse afundando, estou tão desconectado. De alguma maneira
eu sei que estou amaldiçoado a ser procurado. Eu observei, eu esperei nas
sombras pela minha hora... ” 


Cantava o vocalista da banda sombria na música que meu computador não parava de repetir. Era como se ele cantasse para mim, cantava o que eu sentia.

— Preciso acabar com isso...

Murmurei enxugando as lágrimas, e me levantei. Saindo em uma corrida louca e desenfreada, desci as escadas e quase arrebentei a porta da cozinha ao sair em disparada para o pátio. Eu iria até lá e descobriria, colocaria um fim naquela loucura. Ou daria o start para alguma loucura ainda maior do que eu pensava e onde possivelmente não havia botão de pausa. Não vi o carro enorme e prateado até ele parar quase em cima de mim, cheguei a colocar as duas mãos no capô. Mas nem mesmo um quase atropelamento me faria desistir da decisão que havia tomado.

— Lavígnia!

Uma voz conhecida me chamou, mas eu não dei atenção e corri para a floresta. De repente era como se tudo ao meu redor estivesse fora de foco e só o que me importava estava fora da minha visão, e somente lá, as coisas seriam novamente nítidas.

— Ei Nia, espera. - agora a voz era masculina, mas do mesmo jeito não me importava. Se meu braço não tivesse sido segurado, eu não teria parado. - O que houve com você? Está tudo bem? Eu quase te atropelei!

Neitan disse quase gritando e só então a realidade voltou a fazer sentido e eu me dei conta do que fazia. Já estava uns vinte metros floresta adentro e sem me lembrar exatamente do caminho que tinha visto.

— Neitan? - falei seu nome como se só naquele momento o reconhecesse.

— É, sou eu mesmo. Mas que droga deu em você pra atravessar a rua daquele jeito e entrar na floresta? - exigiu, e eu pisquei saindo do transe.

— Ah... eu... eu... não sei. - admiti ganhando um olhar repreensivo e compreensivo ao mesmo tempo.

— Bem, seja lá o que for que você não sabe que está fazendo, é melhor fazê-lo longe da floresta à noite. - recomendou ele ao soltar o meu braço.

— Lavígnia! - Mariana surgiu meio ofegante e confusa atrás dele. - Mas o que deu em você? Tá tentando se matar?

— Não. - neguei ainda meio confusa, o que eles estavam fazendo ali mesmo?

— Então não se jogue na frente de carros em movimento! Se Neitan não dirigisse tão bem, teria atropelado você e estaria morta agora! - ralhou irritada.

— Ah... - sibilei passando a mão nos cabelos e olhei as árvores ao meu redor – vou me lembrar disso.

Murmurei passando por eles em direção à rua. Eu estava confusa, não sabia o que fazer, estava voltando para casa mas era como se estivesse no piloto automático. A frustração apertava meu peito e a raiva por ter sido impedida, fervilhava dentro de mim fazendo as pontas dos meus dedos formigarem.

— O que você ia fazer na floresta? - ouvi a pergunta de Mariana assim que parei no portão, e me virei.

— Eu... vi uma coisa, mas não tem importância. - quase sussurrei e ela revirou os olhos.

— Hum... - ela se virou para Neitan – valeu pela carona, nos vemos amanhã?

— Com certeza. - Neitan disse confirmando com ela algo que eu não fazia ideia, quando se inclinou para dar um beijo nela, meus olhos se prenderam no medalhão que balançou na corrente onde estava preso.

— Está bem, até lá. - concordou Mariana e os olhos dele vieram para os meus.

— Posso falar com você?

— Pode. - respondi como se estivesse anestesiada.

— Hum... vou deixar vocês sozinhos então. - disse ela passando pelo portão.

— Você saiu tão rápido de manhã que nem tivemos a chance de conversar.

Cobrou ele e eu agi de uma forma totalmente incomum, caminhei até ele ficando tão, mas tão perto que ele encostou-se no carro e pareceu surpreso – mas feliz – com minha atitude desvairada e ousada.

— Lavígnia... - ele sussurrou quando estendi minha mão e toquei a corrente em volta de seu pescoço.

— Neitan. - meus dedos escorregaram pela sua pele e ele arfou quando puxei o medalhão que ele havia escondido de volta sob a camiseta – O que isso significa?

Indaguei, analisando cada detalhe da peça prateada. Sob a camiseta preta notei que seu peito arfava numa respiração irregular. Eu não via, mas podia sentir seus olhos grudados em meu rosto. A peça parecia muito antiga e era como me lembrava, mas o que tinha me passado despercebido eram as letras que estavam gravadas nas espadas. Três em cima V,R,D e nas debaixo V,T,A.

— São... hum – ele pigarreou – letras que representam uma antiga aliança da minha família. - Neitan explicou meio evasivo e eu estreitei os olhos.

— E o que é? - inqueri, me afastando um pouco e seus olhos sondaram os meus por um longo momento.

— Lavígnia você não pode... - ele começou mas foi interrompido pelo barulho das latas de lixo que Néftis havia derrubado na calçada.

— Não posso o quê? - insisti e ele me olhou, desta vez frustrado.

— Ah... Néftis! - ralhou Mariana, saindo pela porta da cozinha – Olha só o que você fez!

— Nada... nos vemos amanhã? - ele mudou de assunto.

— Aonde?

— Na praça central, o pessoal organizou tipo um cinema ao ar livre. Vai ser bem legal. - minha prima se intrometeu, enquanto arrumava a bagunça de Néftis.

— E aí? Você vai?

— Hã... tá pode ser. - dei de ombros.

— Nossa! Quanto entusiasmo, assim você me anima. - brincou Neit e eu ri.

— Nos vemos lá.

— Certo, até amanhã – ele disse me olhando daquela forma profunda e depois acenou pra Mariana antes de entrar no carro.

“ Cinema ao ar livre? Acho que isso vai ser bem legal. ”

Pensei, indo ajudar Mariana.

Um comentário:

  1. olha eu akiiii desculpa o sumiço é q ando sem net....amando posta posta posta!!!!!

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